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As dificuldades de um brasileiro aprendendo espanhol na Costa Rica

Por Raphael Ventura, publicado em 27 de agosto de 2021
Atención: algunas palabras pueden ser ofensivas en español 

Um brasileiro relata os infortúnios que atravessou quando cometeu o erro de pensar que o espanhol costarriquenho era apenas uma versão desossada do português. Igual a maioria das pessoas que entendem os idiomas, mas não os falam, comigo me sucedeu o mesmo com o espanhol da Costa Rica. Eu falo, mas não entendo. É o mesmo que dizer, aprendi a música, mas não sei a letra. 

Eu pensei que o português e o espanhol eram tão parecidos que não era necessário receber aulas. Mesmo assim, para sair da dúvida, resolvi perguntar a Josué, um bom amigo costarriquenho, que vive em Quircot (vulgo Ezcazú de Cartago). “Josué, diga-me a verdade, sinto que o português é um dialeto derivado do espanhol… Você acredita que necessito ter aula de espanhol?” Eu lhe perguntei no melhor espanhol que fui capaz de falar. No fundo à direita, Josué não me respondeu e seguiu tomando o seu cacique. Foi uma experiência terrível. Ali mesmo decidi que não só teria aulas de espanhol, como também que Josué seria meu professor. Ele aceitou com resignação misericordiosa. E como eu insistia que ele falasse espanhol o tempo todo, me disse que a partir da segunda-feira nos sentaríamos para estudar espanhol e que também me prepararia um delicioso pinto com ‘huevos revueltos’ de café da manhã.

Me pareceu bastante estranho que ele me oferecesse isso, mas, no entanto, cheguei na segunda-feira decidido a passar fome. Já que pinto em português é pênis e ovos é uma forma vulgar de falar saco escrotal. Mas a minha primeira lição foi saber que pinto era arroz com feijão e ‘huevos revueltos’ eram ovos de galinha mexidos… 

Não me atrevi a perguntar nada mais, neste mesmo momento a irmã de Josué entrou na sala e perguntou se ‘queso’ se escrevia com o ‘cu’. Eu pensei rapidamente que preferencialmente seria melhor escrever com a mão. Já que cu em português significa culo. 

Seguimos com as aulas, até que novamente fomos interrompidos por sua mãe que muito apressada falou a seguinte frase: Que hora es? Me va a dejar la buseta. Eu novamente pensei algo muito errado, pensei que a senhora iria deixar a sua vagina em casa, como era possível deixar uma vagina em casa? Confesso que não tive maturidade nesse momento e comecei a rir, ele muito sério percebeu que eu tinha interpretado a frase de forma errada e com toda paciência do mundo me explicou que buseta em espanhol é micro-ônibus. 

Nesse momento pedi que terminássemos as aulas e que no dia seguinte retornássemos. Ele educadamente me convidou para ir ao bar do Caruzo à noite e eu como legítimo brasileiro aceitei. Adoramos uma boa festa. Chegando ao bar, queria impressioná-lo como uma forma de me desculpar pela situação constrangedora que passamos logo de manhã. 

Pensei que poderia convidar ele a um trago brasileiro já que vi que no bar tinha uma garrafa de 51. Não pensei duas vezes e a dois metros do garçom, gritei que queria “una pinga brasileña”, por favor, percebi que todos do bar me olharam com muita desconfiança e o garçom com muita educação falou que “no tenia”, então falei que podia ser una pinga colombiana, novamente percebi que todos do bar começaram a me encarar de forma estranha e Josué se encontrava muito vermelho, então perguntei se falei algo errado e ele me disse que pinga na Costa Rica é pênis. Já não queria ficar mais ali, queria sumir dali de qualquer forma. Educadamente ele me lembrou que eu queria comprar um tênis para praticar exercícios e me levou ao shopping para comprá-los. 

Disposto a lhe provar que sabia realmente falar espanhol, cheguei até o vendedor mais próximo e perguntei: “Usted tiene um tênis para correr?” Só que muitas vezes a letra R em português tem som de J em espanhol e o vendedor na verdade entendeu a seguinte frase: “Usted tiene un tênis para coger”, como todos os ticos ele também gostava de zoar com os erros dos estrangeiros e me disse que: “Para eso no ocupa un tênis puede hacerlo sin uno”. Confesso que não entendi e fiquei muito irritado, já que ali era uma loja de sapatos e que o vendedor teria que se comportar de forma séria. Josué pacientemente me explicou que ‘coger’ é o mesmo quer ter relações sexuais. Fiquei com tanta vergonha novamente que decidi pegar um táxi e ir embora. Já chegando a casa falei com o taxista que a minha era a terceira casa de “vergas negras”. O taxista, todo grosseiro, falou que não gostava de levar gente vulgar com ele, eu, sem entender nada, perguntei o que era uma ‘verga’ e ele me disse que significa pênis, eu falei que ele era muito grosseiro e que no Duolingo eu tinha aprendido que cerca era “verga”, Josué, que já estava sem paciência,  aos gritos me disse “é VERJJJJJJJJJJAS”, me calei imediatamente e decidi que nunca mais voltaria a aprender espanhol. 

No dia seguinte estava em San José na plataforma dos ônibus de Lumaca, onde havia uma senhora que aparentava ter uns oitenta anos, ela estava descendo do ônibus e quase caiu no chão devido a um desiquilíbrio, eu rapidamente corri para segurá-la e falei a seguinte frase quando ela já estava nos meus braços: “Señora, por favor, póngase atenta, casi se despanocha en el piso”, a senhora ficou muito assustada e todos começaram a rir. Imediatamente liguei para Josué comentado o assunto, ele me interrompeu de uma forma muita grosseira e me perguntou onde eu tinha escutado a expressão ‘despanochar’, comentei com ele que havia escutado essa expressão em um bar quando uma mulher tinha deixado acidentalmente uma garrafa cair no chão, e então eu deduzi que ‘despanochar’ era cair ou deixar cair alguma coisa cair no chão, ele pacientemente me explicou que ‘despanochar’ é uma expressão vulgar derivado da palavra ‘panocha’ que em espanhol é uma gíria para vagina. A partir daí para o desgosto do meu professor, comecei a me empenhar a não estudar o espanhol culto e sim o espanhol vulgar. Não faça o mesmo que eu, aprenda o português correto.